Finlândia e Suécia, países reconhecidos por sua atuação no combate ao machismo e à desigualdade de gênero por meio de medidas educativas e de políticas públicas, apresentaram resultados que impressionam aqueles que imaginam que os países escandinavos são um oásis onde mulheres e homens vivem em harmonia.
Das entrevistadas finlandesas, 47% afirmaram já ter sofrido violência física e/ou sexual a partir dos 15 anos. Na Suécia, o índice chegou a 46% e no Reino Unido e na França, a 44%. Portugal e Espanha apresentaram taxas mais baixas: 24% e 22%, respectivamente. Entre todas as entrevistadas europeias, o índice chegou a 33%.
A pesquisa revelou que 1 em cada 10 europeias já foi submetida a alguma forma de violência sexual, e 1em cada 20 já sofreu estupro. Embora boa parte dos países europeus busque enfrentar a desigualdade de gênero, os dados mostram que o problema ainda não foi resolvido na região.
No Brasil, em que pesquisa do Datafolha indicou que 1 em cada 3 mulheres foi vítima de algum tipo de violência em 2016, a situação é ainda mais grave, pois muitas ocorrências sequer são reconhecidas como violência. Basta analisarmos casos divulgados pela mídia recentemente, como o do juiz que considerou que o pai que espancou a filha adolescente com um fio elétrico por ela ter "perdido a virgindade" exerceu seu "direito de correção".
Sempre que mulheres se indignam com episódios como o citado, logo aparecem, grosso modo, dois grupos: um afirmando que os agressores deveriam mofar na cadeia e outro acusando as mulheres de ser "punitivistas".
O primeiro desconhece que a prisão nem sempre é o melhor caminho para lidar com casos de violência de gênero, e que a educação para a igualdade, a prevenção e a adoção de políticas públicas que ajudem a corrigir desigualdades devem ser a prioridade. Mesmo porque, teríamos de criar quantos presídios para encarcerar todos os homens que já cometeram violência contra as mulheres?
O segundo grupo também erra ao não perceber que a maioria de nós quer, acima de tudo, que a violência contra a mulher seja reconhecida como tal, e que a demanda por reconhecimento da violência de gênero não invalida, a meu ver, a discussão acerca de penas e punições e sobre as formas de lidar com ela.
No momento, creio que seja essencial lutar para que a sociedade brasileira, incluindo todas as esferas de poder, considere as agressões contra a mulher como violência. Já seria um bom começo.