Os dados mostram que 27,5% (723,5 mil) dos alunos do 9° ano, que têm em média 14 anos de idade, já mantiveram relações sexuais: 36% dos meninos e 19,5% das meninas.
Das meninas que fizeram sexo, 9% declararam ter engravidado alguma vez, o que representa 23.620 meninas. Dessas, a maioria cursava a rede pública (9,4%). Apenas 3,5% das meninas que já engravidaram frequentavam a rede privada de ensino.
Mas por que as meninas de classes sociais menos favorecidas ainda engravidam mais do que as de classe média e ricas, se quase 90% dos alunos afirmaram receber informações sobre gravidez e saúde sexual? A resposta é simples: informação por si só não é suficiente.
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Em primeiro lugar, pensemos apenas no que oferecemos às meninas e deixemos os rapazes de lado, pois é sabido que os homens, tanto os mais ricos quanto os mais pobres, em geral se importam pouco com a contracepção, embora essa devesse ser tarefa de todos, homens e mulheres.
Proporcionamos às mais ricas uma educação de melhor qualidade, que lhes permite criar expectativas em relação ao futuro, além de mais oportunidades. Assim, sonhos e planos como viajar, entrar em uma faculdade, conhecer outros lugares e pessoas e aprender novas habilidades quase sempre antecedem o desejo da maternidade.
Quando essas meninas entram em idade fértil, conversamos com elas sobre sexo e as levamos ao ginecologista, que passa a acompanhá-las com frequência e a orientá-las na escolha do melhor método anticoncepcional, a que certamente terão acesso.
Se os anticoncepcionais por acaso falharem, pagamos-lhes o aborto em clínicas onde podem contar com médicos que lhes garantam segurança. Para as mulheres de classe social mais alta, a criminalização do aborto pode ser resolvida com dinheiro.
As meninas mais ricas não se sentem socialmente pressionadas a engravidar; suas amigas não têm filhos e a elas são oferecidos vários papéis sociais que não o de mãe.
Com um ou mais filhos nos braços, as meninas de classes sociais mais baixas que mal saíram da infância não conseguem dar seguimento aos estudos, tampouco melhorar as condições de vida da família. Acabam destinadas a serviços mal remunerados, de onde tiram o sustento dos filhos, muitas vezes sem nenhum apoio.
Para as mulheres de classes mais abastadas, a maternidade é, na maioria das ocasiões, uma escolha e não um destino do qual não se pode fugir. Por que aceitamos condenar as mais pobres a uma realidade que evitamos para nossas filhas?
*Texto originalmente publicado na página do "Quebrando o Tabu"