segunda-feira, 21 de agosto de 2017

Denúncias de abuso e as redes sociais

Têm surgido na internet denúncias e desabafos de mulheres que se sentiram vítimas de relacionamentos abusivos. A reação a isso gerou controvérsia. Minha opinião a respeito:

1) Na nossa sociedade, os homens ainda detêm o poder em muitas esferas: econômica, social, política etc. Não é preciso muito esforço para entender que essa desigualdade se dá também na imensa maioria das relações amorosas heterossexuais, que acabam sendo palco de inúmeros abusos, alguns mais óbvios e violentos, outros mais sutis. Se isso é verdade, também é fato que temos poucos mecanismos para lidar com o problema, principalmente no que diz respeito às violências menos óbvias, que não são passíveis de penalizações legais.

Conheço algumas mulheres que escreveram sobre seus relacionamentos e muitas, muitas outras que viveram e vivem essas relações de poder dentro da esfera íntima. Por acompanhar muitos desses casos e por eu mesma ter vivido algumas situações em que o poder masculino se mostrou mais sutil, mas não menos devastador é que compreendo que cada mulher vítima de situações abusivas lida com isso a seu tempo, da forma que consegue.


Muitas mulheres e meninas estão se amparando nesses relatos, identificando padrões abusivos em seus próprios relacionamentos, encontrando outras mulheres em quem buscar ajuda. Isso é muito importante.

Não me sinto em condições de avaliar a forma como cada mulher lida com a questão e muito menos de dizer se seu relato é ou não legítimo. Não julgá-las é minha opção pessoal.

2) Para mim, o importante é como a sociedade vai lidar com as denúncias. Acho primordial entendermos que o machismo é um problema estrutural e macro e discuti-lo dentro desse contexto.

Vejam, não estou dizendo que perpetuadores de atitudes e comportamentos violentos não devam ser punidos, responsabilizados ou repreendidos, e compreendo que alguns tipos de intimidação de fato funcionam. 

No entanto, demonizar esses homens pode ter efeito contrário:  transformá-los em exceção mesmo sabendo que esses casos não são raros, tampouco isolados.

Portanto, creio que ganharíamos mais discutindo a questão do machismo nas relações íntimas como um problema estrutural que atinge, em graus muito diferentes, é bom salientar, quase todos os casais heterossexuais que conheço. 

3) Machismo é um problema que diz respeito aos homens. É importante que eles discutam masculinidades, que repreendam atitudes machistas em seus amigos e colegas, que entendam de uma vez por todas que são eles que devem mudar e assumir uma postura ativa nesse sentido. Acredito mesmo que boa parte dos homens esteja disposta a mudar e que isso seja possível, mas a mudança não está nas mãos das mulheres, ela não é tarefa nossa. 

4) Por fim, é preciso cuidado com a falsa simetria. Você pode até questionar se é legal ou não esculachar alguém na internet (pessoalmente, prefiro outras formas de atuação), mas isso não é “linchamento”. Comparar as mulheres e meninas que xingam na internet a linchadores é no mínimo injusto.