A imagem da argentina Lucía Pérez não me sai da cabeça. Talvez por eu ter filha e sobrinha adolescentes, quem sabe por eu mesma já ter levado no rosto o sorriso despreocupado e a leveza de quem, aos 16 anos, ainda não conhece o mundo.
Lucía foi sequestrada, obrigada a consumir doses altas de cocaína e maconha, estuprada e morta por empalamento com uma estaca de madeira por dois homens, em Mar del Plata.
Não há adjetivos cruéis o suficiente para qualificar o assassinato. Nenhuma palavra parece dar conta da violência a que a jovem foi submetida. No entanto, o crime não choca apenas pela estranheza, mas pelo motivo oposto. Apesar de bárbaro, ele é incrivelmente banal.
Leia também: A cultura do estupro
Os crimes sexuais na Argentina aumentaram 78% entre 2008 e 2015, segundo o Ministério da Segurança do país, e Mar del Plata é o município argentino com maior número de condenações por exploração sexual.
Movidas pelos altos índices de violência de gênero e pela morte de Lucía, as argentinas convocaram uma paralisação nacional para esta quarta-feira, 19/10. Espera-se uma mobilização nunca vista, uma tentativa de dar um basta à violência contra a mulher.
No Brasil, a situação também é muito grave. Somos o quinto país que mais mata mulheres por motivações de gênero (feminicídio), de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS).
O 9º Anuário Brasileiro de Segurança Pública divulgou que em 2014 houve um estupro notificado a cada 11 minutos. Considerando que apenas 30% a 35% dos estupros são comunicados, é possível estimar que haja um caso de estupro por minuto no país.
Se por um lado o estupro é condenável, por outro a sociedade o tolera e o justifica. Tanto que pesquisa encomendada pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública e realizada e divulgada este ano pelo Datafolha revelou que um em cada três brasileiros acredita que a culpa do estupro é da mulher. Existe outra forma mais eficiente de aceitar um crime do que responsabilizar a vítima?
Sim, existe: fazer com que esse mesmo crime esteja intrínseco na cultura do país. O estupro está presente em toda brincadeira entre jovens que riem quando um colega diz que vai “arregaçar” uma mulher na cama, em cada vez que aceitamos a justificativa de que a vítima havia bebido demais, todas as vezes em que permitimos que homens assediem mulheres nas ruas e lhes toquem o corpo sem seu consentimento, sempre que aceitamos que se refiram às mulheres como ornamento disponível ao homem.
É urgente combater a cultura do estupro. Isso só vai ocorrer quando não tolerarmos mais tudo o que vem antes do crime, aquilo que o estimula e o permite.
A pior coisa que podemos fazer por Lucía Pérez é aceitar que o ocorrido com ela foi uma fatalidade, um crime cometido por dois psicopatas. Não foi. E é exatamente por sua trivialidade que devemos nos mobilizar.
Os crimes sexuais na Argentina aumentaram 78% entre 2008 e 2015, segundo o Ministério da Segurança do país, e Mar del Plata é o município argentino com maior número de condenações por exploração sexual.
Movidas pelos altos índices de violência de gênero e pela morte de Lucía, as argentinas convocaram uma paralisação nacional para esta quarta-feira, 19/10. Espera-se uma mobilização nunca vista, uma tentativa de dar um basta à violência contra a mulher.
No Brasil, a situação também é muito grave. Somos o quinto país que mais mata mulheres por motivações de gênero (feminicídio), de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS).
O 9º Anuário Brasileiro de Segurança Pública divulgou que em 2014 houve um estupro notificado a cada 11 minutos. Considerando que apenas 30% a 35% dos estupros são comunicados, é possível estimar que haja um caso de estupro por minuto no país.
Se por um lado o estupro é condenável, por outro a sociedade o tolera e o justifica. Tanto que pesquisa encomendada pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública e realizada e divulgada este ano pelo Datafolha revelou que um em cada três brasileiros acredita que a culpa do estupro é da mulher. Existe outra forma mais eficiente de aceitar um crime do que responsabilizar a vítima?
Sim, existe: fazer com que esse mesmo crime esteja intrínseco na cultura do país. O estupro está presente em toda brincadeira entre jovens que riem quando um colega diz que vai “arregaçar” uma mulher na cama, em cada vez que aceitamos a justificativa de que a vítima havia bebido demais, todas as vezes em que permitimos que homens assediem mulheres nas ruas e lhes toquem o corpo sem seu consentimento, sempre que aceitamos que se refiram às mulheres como ornamento disponível ao homem.
É urgente combater a cultura do estupro. Isso só vai ocorrer quando não tolerarmos mais tudo o que vem antes do crime, aquilo que o estimula e o permite.
A pior coisa que podemos fazer por Lucía Pérez é aceitar que o ocorrido com ela foi uma fatalidade, um crime cometido por dois psicopatas. Não foi. E é exatamente por sua trivialidade que devemos nos mobilizar.