Um estudo feito por pesquisadores de várias universidades americanas e publicado na revista Science revelou aquilo que observadores atentos já perceberam: as meninas se acham menos inteligentes do que os meninos.
Os pesquisadores realizaram diversos testes com 400 meninos e meninas de 5 a 7 anos. No primeiro, contavam uma história de uma pessoa (sem gênero definido) muito inteligente e pediam para que as crianças a relacionassem a um dos quatro adultos, dois homens e duas mulheres, apresentados a elas.
As crianças de até 5 anos associavam de maneira semelhante o próprio gênero à inteligência. Contudo, a partir dos 6 anos, as garotas se mostraram menos propensas a fazer essa ligação, e a maior parte escolheu a figura dos dois homens como “mais inteligente”.
O estudo corrobora dados de outra pesquisa, feita no Brasil pela ONG britânica Plan International com 1.948 meninas de 6 a 14 anos, que revelam que 40% das meninas do país discordam que são tão inteligentes quanto os meninos.
Sabemos que as garotas não são criadas da mesma maneira que os garotos. Enquanto elas são tratadas como “princesas” e estimuladas a brincar de boneca e a se comportar bem, eles são incitados a praticar esportes e atividades que envolvam perigo e aventura. Aprendem, assim, a arriscar-se e a desenvolver confiança em si mesmos.
Na adolescência, também há regras sociais diferentes para os dois gêneros. Eles, em geral, recebem permissão para sair sozinhos mais cedo, namoram e transam livremente e usufruem de uma liberdade da qual a maioria das meninas não chega nem perto ou se chega, o faz escondido.
O controle sobre o corpo da mulher se dá de muitas maneiras. As mais notáveis são o excesso de cobrança pela beleza física idealizada, que inclui padrões inatingíveis para muitas, e o controle de sua sexualidade, ao negar-lhes o acesso aos direitos reprodutivos plenos.
As mulheres adultas ocupam a minoria dos cargos de chefia. Enquanto apenas 12% dos homens da América Latina não têm nenhuma fonte de renda pessoal, 33% mulheres estão na mesma situação (dados: Cepal, 2014), o que as deixa em situação de dependência econômica.
No que tange a questão da representatividade, as meninas e mulheres, principalmente as negras, têm bem menos exemplos de mulheres bem-sucedidas, independentes e inteligentes para se espelhar em filmes, livros, novelas e outras representações.
Tudo isso mina a autoestima e a autoconfiança das mulheres. Não à toa, temos cobrado mudanças que ajudem a construir uma sociedade menos machista, pois sabemos o quanto ela pode ser nociva às meninas. Talvez apenas não soubéssemos que o estrago começasse tão cedo.
*Texto originalmente publicado na página "Quebrando o Tabu"