sexta-feira, 14 de novembro de 2014

O acinte dos outros

Cena I: dois rapazes de cerca de 20 anos se beijam em um trem do metrô de São Paulo. Outros passageiros se sentem incomodados e os mandam sair sob xingamentos. O casal resolve ignorar os insultos e é colocado para fora do vagão a socos e pontapés.

Cena II: um ator famoso e casado beija outra moça, e um paparazzo, esse tipo que se tornou tão comum à fauna humana, flagra o ato, que sai estampado em várias revistas de fofoca, causando indignação nas redes sociais. A mulher, também famosa, não só perdoa o marido como manda que cada um cuide de si. Sua reação é considerada uma afronta por aqueles que desejavam vê-la, aos prantos, expulsar o marido infiel de casa.

Sempre me perguntei por que as pessoas se incomodam tanto com a vida dos outros. O que interessa se a vizinha gosta de meninas ou se o filho da moça que trabalha na sua seção tem cinco furos na orelha e dez tatuagens no braço? Em que o modo como os outros levam a vida altera a sua?

Tenho uma teoria. O comportamento diferente incomoda, agride porque obriga as pessoas a confrontar o fato de que seguem normas e condutas sem nem ao menos saberem por quê.

Elas se aborrecem com aqueles que ousam não seguir ao pé da letra as regras que a sociedade inventou para si.

Qual outra desculpa para alguém se sentir mal diante de dois jovens trocando carinho em um trem? Ou para julgar e recriminar um casal que nem ao menos faz parte do seu círculo de amigos?

Alguns não aceitam que os comportamentos e valores adotados por eles sejam ignorados ou menosprezados e tentam impô-los aos outros. Como eles acreditam e seguem esses valores e preceitos, ninguém pode ousar negá-los publicamente. Se o fizerem, que seja escondido, pelo menos.

A coragem de quem resolve não viver como a maioria e ainda tem o atrevimento de assumir sua posição é um desplante para aqueles que preferem a hipocrisia.


Porém, se há algo a ser admirado na humanidade é a diversidade. Somos diferentes, e ainda bem. E, ao contrário do que fazem as pessoas que julgam e recriminam aqueles que pensam de outro modo, devíamos aplaudir quem tem coragem de ser o que é.