Cena I:
dois rapazes de cerca de 20 anos se beijam em um trem do metrô de São Paulo. Outros
passageiros se sentem incomodados e os mandam sair sob xingamentos. O casal
resolve ignorar os insultos e é colocado para fora do vagão a socos e pontapés.
Cena
II: um ator famoso e casado beija outra moça, e um paparazzo, esse tipo que se
tornou tão comum à fauna humana, flagra o ato, que sai estampado em várias
revistas de fofoca, causando indignação nas redes sociais. A mulher, também
famosa, não só perdoa o marido como manda que cada um cuide de si. Sua reação é
considerada uma afronta por aqueles que desejavam vê-la, aos prantos, expulsar
o marido infiel de casa.
Sempre
me perguntei por que as pessoas se incomodam tanto com a vida dos outros. O que
interessa se a vizinha gosta de meninas ou se o filho da moça que trabalha na
sua seção tem cinco furos na orelha e dez tatuagens no braço? Em que o modo
como os outros levam a vida altera a sua?
Tenho
uma teoria. O comportamento diferente incomoda, agride porque obriga as pessoas
a confrontar o fato de que seguem normas e condutas sem nem ao menos saberem por quê.
Elas se
aborrecem com aqueles que ousam não seguir ao pé da letra as regras que a
sociedade inventou para si.
Qual
outra desculpa para alguém se sentir mal diante de dois jovens trocando carinho
em um trem? Ou para julgar e recriminar um casal que nem ao menos faz parte do
seu círculo de amigos?
Alguns
não aceitam que os comportamentos e valores adotados por eles sejam ignorados
ou menosprezados e tentam impô-los aos outros. Como eles acreditam e seguem
esses valores e preceitos, ninguém pode ousar negá-los publicamente. Se o
fizerem, que seja escondido, pelo menos.
A
coragem de quem resolve não viver como a maioria e ainda tem o atrevimento de
assumir sua posição é um desplante para aqueles que preferem a hipocrisia.
Porém,
se há algo a ser admirado na humanidade é a diversidade. Somos diferentes, e
ainda bem. E, ao contrário do que fazem as pessoas que julgam e recriminam aqueles que pensam de outro modo, devíamos aplaudir quem tem coragem de ser o que é.