Todo 8 de março é a mesma coisa: canso de ouvir
frases como: “Mas dia da mulher é todo dia”, “Se tem um dia da mulher, por que
não tem um dia do homem?”, ou ainda “Parabéns pelo seu dia”. É preciso entender
o sentido da data. Esse não é um dia de celebração, mas de exigir direitos.
Tentar transformá-lo em uma data comemorativa como o Dia dos Namorados e encher
as mulheres de flores e bombons é esvaziar seu significado e destitui-lo de
importância.
O Dia Internacional da Mulher serve para lembrar as desigualdades de gênero, tão comuns no Brasil e no mundo e para aproveitar espaços e discutir essas disparidades. A data foi reconhecida pela ONU na década de 1970, mas avançamos pouco desde então, no que diz respeito a direitos.
O Dia Internacional da Mulher serve para lembrar as desigualdades de gênero, tão comuns no Brasil e no mundo e para aproveitar espaços e discutir essas disparidades. A data foi reconhecida pela ONU na década de 1970, mas avançamos pouco desde então, no que diz respeito a direitos.
Embora nem todas as mulheres concordem sempre,
algumas reivindicações são compartilhadas por quase todas as mulheres que desejam
viver em uma sociedade mais igualitária:
1) FIM DAS VIOLÊNCIAS
1) FIM DAS VIOLÊNCIAS
A cada
1:30 hora, uma mulher morre de causa violenta no país (IPEA). Pelo menos 4
mulheres foram assassinadas por dia pelos parceiros ou ex-parceiros em 2013
(Mapa da Violência 2015). Em 2014, 405 mulheres sofreram violência por dia e
precisaram de atendimento no SUS (MdV), sendo que quase 68% dos casos foram
cometidos por parentes imediatos ou parceiros/ex-parceiros.
Os dados servem para ilustrar aquilo que já sabemos: as mulheres são as principais vítimas de violência doméstica. Além desse tipo de agressão, somos assediadas nas ruas, no trabalho, nos meios de transporte, em locais públicos e privados. Foram 47 mil ocorrências de estupro denunciadas (atenção para isso, pois sabemos que esse é um dos crimes em que há mais subnotificações) apenas em 2014 (Fórum Bras. de Segurança Pública).
Ainda estamos engatinhando na prevenção e na punição dos casos de violência contra a mulher e no acolhimento e tratamento, quando é o caso, das vítimas. Hoje o sentimento mais comum quando se conversa com as mulheres sobre violência é um só: medo.
2) GARANTIA DOS DIREITOS SEXUAIS E REPRODUTIVOS
Queremos direitos que nos permitam viver a própria
sexualidade com prazer e liberdade. Para isso, precisamos de educação sexual
nas escolas, acesso a métodos contraceptivos, orientação sexual e cuidados com
a saúde em postos, unidades de saúde e hospitais.
Queremos ter direito ao
planejamento familiar, que inclui a descriminalização do aborto. A mulher que
decide abortar precisa ser amparada.
Uma em cada cinco mulheres já abortou
(PNA). É correto deixar milhares de mulheres abandonadas à própria sorte? Até
quando vamos ignorar o fato de que são as mulheres pobres que morrem em
procedimentos mal feitos?
3) EQUIDADE SALARIAL E DIVISÃO DO TRABALHO DOMÉSTICO
3) EQUIDADE SALARIAL E DIVISÃO DO TRABALHO DOMÉSTICO
Mulheres ganham
68% do salário dos homens (Fórum Econômico Mundial); 90% das mulheres realizam
tarefas domésticas, que incluem o cuidado com os filhos, enquanto 40% dos
homens desempenham as mesmas atividades (Unicamp).Elas dedicam 25 hs semanais
à casa e à família; eles, 9 hs por semana.
Há 5,5 milhões de crianças que não
foram sequer registradas pelos pais. Isso sem contar as milhares de mães que
criam os filhos sozinhas.
Reivindicamos salários iguais e maior participação
dos homens no cuidado com a casa e os filhos, que, afinal, são tanto deles
quanto nossos.Portanto, os cuidados diários com as crianças e a responsabilidade pela
sua educação devem ser atribuições de ambos.
4) Por fim, é importante lembrar que não existe uma categoria hegemônica chamada “mulheres”. Somos muitas, e somos diferentes, com demandas distintas.
É preciso sempre levar em conta a classe social, a raça, a
orientação sexual e outros fatores quando discutimos direitos das mulheres.
Mas
se é verdade que somos várias e diversas, também é fato que juntas somos mais
fortes. E que ainda há muito trabalho a fazer.
*Texto originalmente publicado na página do "Quebrando o Tabu"