terça-feira, 8 de março de 2016

O que querem as mulheres

Todo 8 de março é a mesma coisa: canso de ouvir frases como: “Mas dia da mulher é todo dia”, “Se tem um dia da mulher, por que não tem um dia do homem?”, ou ainda “Parabéns pelo seu dia”. É preciso entender o sentido da data. Esse não é um dia de celebração, mas de exigir direitos. Tentar transformá-lo em uma data comemorativa como o Dia dos Namorados e encher as mulheres de flores e bombons é esvaziar seu significado e destitui-lo de importância.

O Dia Internacional da Mulher serve para lembrar as desigualdades de gênero, tão comuns no Brasil e no mundo e para aproveitar espaços e discutir essas disparidades. A data foi reconhecida pela ONU na década de 1970, mas avançamos pouco desde então, no que diz respeito a direitos.

Embora nem todas as mulheres concordem sempre, algumas reivindicações são compartilhadas por quase todas as mulheres que desejam viver em uma sociedade mais igualitária:

1) FIM DAS VIOLÊNCIAS
A cada 1:30 hora, uma mulher morre de causa violenta no país (IPEA). Pelo menos 4 mulheres foram assassinadas por dia pelos parceiros ou ex-parceiros em 2013 (Mapa da Violência 2015). Em 2014, 405 mulheres sofreram violência por dia e precisaram de atendimento no SUS (MdV), sendo que quase 68% dos casos foram cometidos por parentes imediatos ou parceiros/ex-parceiros.

Os dados servem para ilustrar aquilo que já sabemos: as mulheres são as principais vítimas de violência doméstica. Além desse tipo de agressão, somos assediadas nas ruas, no trabalho, nos meios de transporte, em locais públicos e privados. Foram 47 mil ocorrências de estupro denunciadas (atenção para isso, pois sabemos que esse é um dos crimes em que há mais subnotificações) apenas em 2014 (Fórum Bras. de Segurança Pública).

Ainda estamos engatinhando n
a prevenção e na punição dos casos de violência contra a mulher e no acolhimento e tratamento, quando é o caso, das vítimas. Hoje o sentimento mais comum quando se conversa com as mulheres sobre violência é um só: medo.

2) GARANTIA DOS DIREITOS SEXUAIS E REPRODUTIVOS
Queremos direitos que nos permitam viver a própria sexualidade com prazer e liberdade. Para isso, precisamos de educação sexual nas escolas, acesso a métodos contraceptivos, orientação sexual e cuidados com a saúde em postos, unidades de saúde e hospitais.
Queremos ter direito ao planejamento familiar, que inclui a descriminalização do aborto. A mulher que decide abortar precisa ser amparada. 
Uma em cada cinco mulheres já abortou (PNA). É correto deixar milhares de mulheres abandonadas à própria sorte? Até quando vamos ignorar o fato de que são as mulheres pobres que morrem em procedimentos mal feitos?

3) EQUIDADE SALARIAL E DIVISÃO DO TRABALHO DOMÉSTICO
Mulheres ganham 68% do salário dos homens (Fórum Econômico Mundial); 90% das mulheres realizam tarefas domésticas, que incluem o cuidado com os filhos, enquanto 40% dos homens desempenham as mesmas atividades (Unicamp).Elas dedicam 25 hs semanais à casa e à família; eles, 9 hs por semana. 
Há 5,5 milhões de crianças que não foram sequer registradas pelos pais. Isso sem contar as milhares de mães que criam os filhos sozinhas.
Reivindicamos salários iguais e maior participação dos homens no cuidado com a casa e os filhos, que, afinal, são tanto deles quanto nossos.Portanto, os cuidados diários com as crianças e a responsabilidade pela sua educação devem ser atribuições de ambos.

4) Por fim, é importante lembrar que não existe uma categoria hegemônica chamada “mulheres”. Somos muitas, e somos diferentes, com demandas distintas.
É preciso sempre levar em conta a classe social, a raça, a orientação sexual e outros fatores quando discutimos direitos das mulheres. 
Mas se é verdade que somos várias e diversas, também é fato que juntas somos mais fortes. E que ainda há muito trabalho a fazer.



*Texto originalmente publicado na página do "Quebrando o Tabu"