quarta-feira, 22 de outubro de 2014

Bom-senso em tempos estranhos

Preciso confessar: nunca confiei muito no bom-senso das pessoas. A capacidade de julgamento pode ser influenciada por muitas variáveis, e os seres humanos estão longe de ser isentos. Portanto, já esperava paixões e ânimos acirrados nestas eleições. Até aí, nenhuma novidade.

O que vejo, no entanto, vai além. As pessoas parecem ter aberto mão da liberdade individual, do senso crítico. E o que sobra da valiosa capacidade de julgamento sem liberdade para crítica? Muito pouco.

Defender uma posição política não implica, de forma nenhuma, fechar os olhos para os defeitos e problemas que ela apresenta. Tampouco requer a demonização e desqualificação de todos que pensam diferente.

Na verdade, a forma como políticos e eleitores têm se comportado nesta eleição polarizada revela um fato mais grave: a imaturidade do nosso processo democrático.

Os debates televisivos mostram candidatos se agredindo, atacando-se e defendendo-se em um discurso vazio, em que faltam propostas e ideias claras.

Os eleitores, em tempos de redes sociais, reproduzem todo tipo de propaganda, muitas vezes mentirosas, sem ao menos se preocupar em verificar as fontes.

Ofendem-se mutuamente, com uma soberba desrespeitosa, buscando desqualificar o outro em vez de defender propostas.

Políticos, artistas, jornalistas e intelectuais se prestam a atitudes vexatórias, fazendo afirmações em que, suspeito, nem eles mesmos acreditam.

Não sou inocente, sei que política é terreno fértil para discussões e as julgo saudáveis e necessárias. Em um momento tão importante para o país, espera-se a defesa clara de pontos de vista e posições, com argumentos concisos e embasados, mesmo que apaixonados.  


Nestas eleições, infelizmente, perdemos a chance de amadurecer.