Preciso
confessar: nunca confiei muito no bom-senso das pessoas. A capacidade de
julgamento pode ser influenciada por muitas variáveis, e os seres humanos estão
longe de ser isentos. Portanto, já esperava paixões e ânimos acirrados nestas eleições. Até aí, nenhuma novidade.
O que
vejo, no entanto, vai além. As pessoas parecem ter aberto mão da liberdade
individual, do senso crítico. E o que sobra da valiosa capacidade
de julgamento sem liberdade para crítica? Muito pouco.
Defender
uma posição política não implica, de forma nenhuma, fechar os olhos para os
defeitos e problemas que ela apresenta. Tampouco requer a demonização e
desqualificação de todos que pensam diferente.
Na
verdade, a forma como políticos e eleitores têm se comportado nesta eleição
polarizada revela um fato mais grave: a imaturidade do nosso processo
democrático.
Os
debates televisivos mostram candidatos se agredindo, atacando-se e
defendendo-se em um discurso vazio, em que faltam propostas e ideias claras.
Os eleitores,
em tempos de redes sociais, reproduzem todo tipo de propaganda, muitas vezes
mentirosas, sem ao menos se preocupar em verificar as fontes.
Ofendem-se
mutuamente, com uma soberba desrespeitosa, buscando desqualificar o outro em
vez de defender propostas.
Políticos,
artistas, jornalistas e intelectuais se prestam a atitudes vexatórias, fazendo
afirmações em que, suspeito, nem eles mesmos acreditam.
Não sou
inocente, sei que política é terreno fértil para discussões e as julgo
saudáveis e necessárias. Em um momento tão importante para o país, espera-se a defesa clara de pontos de vista e posições, com argumentos
concisos e embasados, mesmo que apaixonados.
Nestas eleições, infelizmente, perdemos a chance de amadurecer.