sexta-feira, 31 de outubro de 2014

As adolescentes e a camisinha


A adolescência é um período de incertezas e descobertas. As mudanças físicas, psicológicas e comportamentais pelas quais os jovens passam nessa fase são intensas.

De uma hora para outra eles têm de aprender a lidar com um corpo diferente e com determinadas responsabilidades para as quais nem sempre estão preparados.

Durante esse período, surge um novo aspecto do universo adulto: a vida sexual. Seu início não é simples para ninguém, mas as meninas estão em situação mais vulnerável, por vários fatores.
Em primeiro lugar, porque engravidam. A descoberta de si e do outro traz a necessidade de lidar e assumir, muitas vezes sozinha, o risco de gerar outra vida.

Apesar da possibilidade de gravidez e de contrair doenças sexualmente transmissíveis, o II Levantamento Nacional de Álcool e Drogas (Lenad), divulgado em 2012, revelou que 40% das meninas entre 14 e 25 anos não usam preservativos. Um terço dessas jovens (32%) já engravidou; 12,4% sofreram abortamento espontâneo ou provocado.

A infecção pelo HIV vem crescendo entre as adolescentes de 13 a 19 anos. Desde 1998, o número de meninas infectadas supera o de meninos.

Inseguras para impor suas vontades, as jovens muitas vezes se submetem ao desejo dos parceiros, alguns bem mais velhos, de fazer sexo sem preservativo.

Sabemos que as meninas são criadas de maneira diferente dos meninos. Enquanto estes são estimulados a praticar sexo, elas devem ter um comportamento recatado e não demonstrar desejo.

Todos os xingamentos destinados às meninas têm cunho sexual e servem para passar a ideia de que sexo é algo sujo, a ser evitado. Também lhes ensinamos que devem esconder e disfarçar a sexualidade, se quiserem ser respeitadas.

Como esperar que a jovem, depois de aprender que sexo não deve sequer ser mencionado e que é preciso esconder seus desejos sexuais, de repente passe a se impor e exigir o uso de preservativo?

As meninas só vão se proteger se tiverem segurança e autoestima. Para isso, precisamos falar de sexo com elas desde cedo, ensinar-lhes que se valorizar não é negar seus desejos e sim saber estabelecer relações saudáveis, em que se sintam respeitadas.

É necessário que entendamos, de uma vez por todas, que as meninas também têm desejos e que, de uma forma ou de outra, eles serão expressados. Resta saber em que condições queremos que isso aconteça.

 *Texto originalmente publicado no www.drauziovarella.com.br